Categoria: Saúde

  • Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA – Seguro Obrigatório

    Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA – Seguro Obrigatório

    Por Mariana Kishimoto*

    Nas primeiras partes da série de artigos Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA, explicamos como funcionam as instituições de saúde — chamadas de Healthcare Facilities. Antes de começar a próxima série, que será sobre Planos de Saúde (Health Insurances), explicarei o Individual Health Care Mandate. Essa lei prevê que todos os residentes da Califórnia tenham  seguro de saúde. Lembre-se de checar no site do seu estado, pois existe diferença entre eles.

    O objetivo desta série é compartilhar conhecimento com os brasileiros que moram na Califórnia. Muitas pessoas têm dificuldade de entende o sistema seja por barreira imposta pelo idioma ou falta de tempo de pesquisar o assunto. Essas informações não são recomendações profissionais. Mantivemos os principais termos em inglês para que você reconheça quando encontrar algum deles no seu dia a dia.

    Cobertura obrigatória

    A partir de 1º de Janeiro de  2020, o Health Care Mandate — Minimum Essential Coverage Individual Mandate  entrou em vigor no estado da Califórnia. Isso significa que todos os moradores devem ter um plano de saúde, a menos que sejam elegíveis para uma exceção. O mandato – que era Federal por meio do Affordable Care Act entre os anos de 2014 a 2018-, agora é Estadual, o que significa que cada estado decide independentemente sobre mantê-lo ou não, e como administra-lo. Além da Califórnia, outros estados que atualmente possuem este mandato são: Massachusetts, New Jersey, Rhode Island e DC. 

    Multa

    Os residentes e seus dependentes que não estiverem segurados, e que não são elegíveis para a exceção, deverão pagar uma multa Individual Shared Responsibility Penalty. O valor dessa multa depende da renda familiar. A multa custa a partir de $750 por residente e $375 por cada menor dependente até 18 anos. Existe um Penalty Estimator Tool no site do governo, que pode te ajudar a estipular o valor a ser pago. Como o mandato entrou em vigor em 2020, os residentes devem informar na declaração do imposto que será entregue nesse ano de 2021. 

    Cobertura mínima

    Para evitar a penalidade, cada residente, seus cônjuge e dependentes devem ter o Minimum Essential Coverage (MEC) para cada mês a partir de 1º de Janeiro de 2020. Medicare e Medicaid contam como (MEC), além dos seguros de saúde adquiridos por meio dos empregadores e/ou diretamente pelo Covered California, outro Health Insurance Marketplace, ou diretamente com as empresas de seguro

    No entanto, existem algumas exceções que isentam o pagamento da multa, como: (i) alegar que o valor da cobertura é inacessível (pois excede os 8.24% da renda familiar), (ii) estar isento da declaração de imposto (quem tem renda anual em 2020 foi menor do que $12,400), (iii) entre outros fatores que estão disponíveis no site do governo. 

    Link com as informações, incluindo as exceções ao mandato: https://www.ftb.ca.gov/about-ftb/newsroom/health-care-mandate/personal.html#Exemptions

    * Sobre a autora convidada – Após mais de 10 anos como estilista, Mariana decidiu seguir carreira em medicina natural e nutrição integrativa para ajudar as pessoas a terem uma saúde melhor, especialmente mulheres e imigrantes. É pre-med e aluna do programa LEAP da Escola de Medicina de Stanford, que visa melhorar a saúde das comunidades locais. Para ajudar as conterrâneas a entenderem como funciona o sistema de saúde na Califórnia, Mariana lançou o blog wellposts.com, onde também dá outras dicas relacionadas a uma vida saudável.

    Referências:

    Health care mandate Minimum Essential Coverage Individual Mandate

    California Individual Health Care Mandate

    Penalty – Covered California

    Is There Still a Penalty for Being Uninsured in 2021? – Very Well Health

  • Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: diferenças entre tipos de hospitais

    Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: diferenças entre tipos de hospitais

    Por Mariana Kishimoto*

    Nas primeiras partes da série de artigos da série Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA, expliquei como funcionam as instituições de saúde nas quais os pacientes são hospitalizados por no mínimo 24h, as inpatient facilities, e as instituições nas quais os pacientes fazem consultas ou exames, mas não são hospitalizados, as outpatient facilities. Também esclareci a diferença entre o Urgent Care e Emergency Care (Emergency Room) no artigo sobre emergências

    Neste quarto artigo, vamos falar sobre as diferenças financeiras e de propriedade (ownership) entre os tipos de hospitais: Sem fins-lucrativos (Nonprofit), Com fins lucrativos (For-Profit), ou Públicos (Government-Owned).

    Assim como nas partes anteriores, os principais termos serão mantidos em inglês para não gerar confusão. As fontes pesquisadas estão ao final do texto. Vamos lá!

    Nonprofit Hospitals 

    Hospitais totalmente isentos de impostos e que possuem o benefício de poder receber doações. Por definição, devem oferecer algum tipo de serviço beneficente e servir a comunidade onde estão localizados. Entretanto, a maneira como isso é feito não é regulado por lei, o que torna o assunto um tanto controverso — não se sabe ao certo o quanto é retornado à comunidade. Uma das únicas “obrigações” da lei é que o atendimento de emergência (Emergency Room) não negue atendimento a nenhum paciente, mas os hospitais não são obrigados a prestar nenhum serviço de graça, nem de oferecer custos mais acessíveis. 

    Quase 60% dos hospitais nos EUA são non-profit e podem ser afiliados a instituições religiosas. Geralmente, são bem lucrativos – um estudo mostrou que 7 dos 10 hospitais mais lucrativos em 2013 eram non-profit. O lucro deve ser reinvestido na própria instituição, e novamente não fica claro como o dinheiro é reinvestido, o que pode variar desde o salários dos CEOs e médicos a reformas.

    For-profit Hospitals (ou Investor-Owner) 

    Hospitais com fins lucrativos, que pagam impostos e geram lucros aos investidores. Atualmente, 25% dos hospitais nos EUA classificados dessa forma. 

    *A qualidade e o tipo de atendimento é supostamente a mesma em ambos os tipos de hospitais, e ambos, por lei, não podem negar atendimento a nenhum paciente. 

    State & Local Government-Owned (or Public) Hospitals 

    Hospitais financiados pelo governo e operados por meio dos recursos coletados por impostos. Normalmente, são gerenciados pelos governos locais, como as cidades e condados. Tendem a ser mais baratos e atendem mais minorias e pessoas sem plano de saúde ou que não tem condições de pagar. 

    Confira aqui a lista das instituições públicas na Califórnia da CAPH – California Association of Public Hospitals and Health System.

    Federal Government Hospitals

    Hospitais administrados pelo governo federal. Inclui os hospitais e clínicas para militares e veteranos (Veteran’s Administration), e os do Departamento de Defesa (Department of Defense and the Department of Health and Human Services). 

    *Lembrando que a American Hospital Association-AHA classifica como community hospitals todos os hospitais que são de curta-estadia, gerais ou especializados e não são federais. Portanto, Nonprofit, For-profit & State & Local Government-Owned são todos classificados como community hospitals.   

    A partir de Janeiro de 2021, a lei Hospital Price Transparency entrou em vigor e todos os hospitais são obrigados a prover todos os valores dos serviços cobrados online. 

     

    *Sobre a autora convidada – Após mais de 10 anos como estilista, Mariana decidiu seguir carreira em medicina natural e nutrição integrativa para ajudar as pessoas a terem uma saúde melhor, especialmente mulheres e imigrantes. É pre-med e aluna do programa LEAP da Escola de Medicina de Stanford, que visa melhorar a saúde das comunidades locais. Para ajudar as conterrâneas a entenderem como funciona o sistema de saúde na Califórnia, Mariana lançou o blog wellposts.com, onde também dá outras dicas relacionadas a uma vida saudável.

    Referências:

    Fast Facts on US Hospitals – American Hospitals Association. 

    Fast Facts on US Hospitals Infographics – American Hospitals Association.
    Why Are Nonprofit Hospitals So Highly Profitable? – The New York Times

    A More Detailed Understanding Of Factors Associated With Hospital Profitability -Health Affairs

     

  • Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: Emergências

    Desmistificando o Sistema de Saúde nos EUA: Emergências

    Por Mariana Kishimoto*

    Nas primeiras partes desta série de artigos sobre o sistema de saúde americano, expliquei como funcionam as instituições de saúde nas quais pacientes são hospitalizados por no mínimo 24h, as inpatient facilities, e as instituições nas quais os pacientes fazem consultas ou exames, mas não são hospitalizados, as outpatient facilities. Nesta terceira parte, explico sobre Urgent Care e Emergency Care (ou Emergency Room – ER), que também se enquadram como outpatient facilities. 

    Leia o 1o artigo

    Leia o 2o artigo

    Nós, brasileiras, estamos acostumadas com o pronto-socorro do hospital (Emergency Room) para atendimentos de emergência e não entendemos direito quais são as diferenças entre as duas facilities. Muitos débitos podem ser evitados com informação, principalmente quando dívidas médicas são o principal motivo das pessoas declararem falência (bankruptcy) nos EUA. 

    Assim como nas partes anteriores, os principais termos serão mantidos em inglês para não criar confusão. Todas as fontes pesquisadas estão no final do texto.     

    Urgent Care ou Acute Care Clinics 

    São as clínicas apropriadas às pessoas que precisam de atendimento médico em menos de 24h e não podem esperar até agendar uma consulta com o seu médico, mas não sofrem risco de morte. Geralmente, possuem emergency physicians e physician’s assistant que são treinados em emergência e saúde da família, e têm um conhecimento clínico geral, podendo tratar uma grande variedade de doenças e pacientes de todas as faixas etárias. Eles também identificam se o paciente precisa ser transferido para um ER ou um especialista. Possuem máquinas de Raio-X, materiais para exames laboratoriais básicos e equipamentos para pequenos procedimentos. O atendimento é mais rápido do que no ER e, em média, leva menos de uma hora, e em muitas clínicas o atendimento pode ser pré agendado. Não funcionam 24h por dia, mas fecham mais tarde do que um consultório médico e, normalmente, funcionam os 7 dias da semana. Não é um substituto ao tratamento preventivo com o seu physician, apenas um complemento quando necessário. 

    Dados mostram que quase um terço dos atendimentos feitos em ER poderiam ter sido feitos no UC, economizando tempo e dinheiro. Apesar da obrigatoriedade de todos os grande planos de saúde particulares oferecerem acesso a tratamento de emergência (pelo Affordable Care Act), nem todos os planos consideram Urgent Care como tal. É raro uma UC não aceitar Medicaid ou Medicare, e o valor a ser pago pelo paciente varia de acordo com a cobertura. 

    Algumas perguntas importantes antes de acessar o serviço

    Sempre confira com a clínica antes de ir se:

    • Aceitam o seu convênio, 
    • Se você será cobrada como Urgent Care ou Emergency Room, e 
    • Se as contas dos serviços serão enviadas juntas ou separadas muitas clínicas enviam contas separadas por profissionais, serviços e taxas da clínica. 

    Várias faculdades de medicina possuem Urgent Care Clinics com diversos tipos de tratamentos e opções de pagamentos acessíveis ou gratuitos. A UC da faculdade de medicina da Stanford oferece tratamento gratuito para adultos que não possuem seguro de saúde, com clínicas em San José e Menlo Park, e os alunos de medicina da Berkeley e UCSF gerenciam clínicas gratuitas com diversos serviços disponíveis. E, lembre-se que as UC são uma boa opção caso aconteça uma pequena emergência médica nas suas viagens de férias. 

    Devido à pandemia do Covid-19 muitas Urgent Care Clinics possuem agora a opção de atendimento virtual. 

    Exemplos de quando ir ao Urgent care: sintomas leves de reação alérgica, infecção urinária, picadas de insetos, leves queimaduras, diarréia, dor de ouvido, dor de garganta, gripe com leves sintomas, aplicação de vacinas e imunizações, cortes não profundos, conjuntivite, sinusite, infecções na pele, febre, torções e fraturas leves. 

    Estabelecimentos de Urgent Care:

    Cardinal Free Clinics, Stanford Medicine: http://med.stanford.edu/cfc/about.html 

    Berkeley Free Clinic: https://www.berkeleyfreeclinic.org/

    Cllínicas dos alunos da UCSF:https://clinicamb.blogspot.com/

    https://mabuhayhealthcenter.org/

    Emergency Care or Emergency Room 

    São os centros de emergência localizados nos hospitais gerais e apropriados às pessoas que precisam de atendimento médico urgente para situações graves, como acidentes e/ou correm o risco de morte. Normalmente, possuem emergency physicians (ER doctors) que são treinados em emergências e situações de alto risco. Possuem uma estrutura mais completa para fazer diagnósticos mais específicos, além de terem acesso a especialistas, como cardiologistas e ortopedistas que trabalham no hospital caso haja extrema necessidade. 

    O atendimento é mais demorado para os casos que não são graves, em média em torno de 90 minutos, pois é dada preferência aos casos mais urgentes, além da equipe médica estar sempre sobrecarregada. Funcionam 24h por dia, todos os dias da semana, e por terem mais médicos especialistas e um atendimento mais amplo, são bem mais caros do que o Urgent Care – uma diferença que pode chegar a até cinco vezes mais para o mesmo tipo de tratamento. O ER é obrigado por lei federal a prover atendimento emergencial a todos os pacientes, mesmo os que não possuam seguro  lembrando que ser obrigado a atender não significa que o atendimento será gratuito. Em geral, a conta chegará após algumas semanas a sua residência pelo correio, e pode ser separada por profissionais, serviços e taxas do ER. Até 1986, quando essa lei foi aprovada, os hospitais podiam negar atendimento emergencial aos pacientes que não tinham como pagar, prática conhecida como “patient dumping”. Convênios médicos privados, Medicare e Medicaid cobrem grande parte do atendimento, variando de acordo com cada plano. 

    Exemplos de quando ir ao Emergency Room: dor abdominal severa, sintomas severos de reação alérgica, queimadura severa, dor no peito, fraturas, tosse com sangue, corte profundo que não para de sangrar, desmaios, dificuldades para respirar, perda da visão, convulsões, lesões na cabeça, paralisia súbita dos membros, dificuldades na fala, febre com dor no pescoço e bebês menores de duas semanas com febre.    

    Obs: As indicações de quando ir ao Urgent care ou Emergency Room não se aplicam aos sintomas do Covid-19, que irei explicar com mais detalhes em uma próxima matéria.

    Ambas as instituições irão tratar APENAS a condição de saúde emergencial do paciente e não irão fazer outros exames ou check-ups não relacionados àquela condição específica! 

    *Sobre a autora convidada – Após mais de 10 anos como estilista, Mariana decidiu seguir carreira em medicina natural e nutrição integrativa para ajudar as pessoas a terem uma saúde melhor, especialmente mulheres e imigrantes. É pre-med e aluna do programa LEAP da Escola de Medicina de Stanford, que visa melhorar a saúde das comunidades locais. Para ajudar as conterrâneas a entenderem como funciona o sistema de saúde na Califórnia, Mariana lançou o blog wellposts.com, onde também dá outras dicas relacionadas a uma vida saudável.

     

    Referências:

    Where to Go for Urgent Health Needs – Healthline

    When to Go to Urgent Care vs. the ER – Self

    Trauma surgeons vs. ER doctors: What’s the difference? – Medschool UCLA

    How Much Does an Urgent Care Visit Cost? – eHealth

    Medicare and Urgent Care: What Is Covered? – Healthline

    Duty to Provide Emergency Medical Care – LawShelf

    Emergency Rooms vs. Urgent Care Centers – Debt.org