Tag: Imigrante

  • Como foi a roda de leitura com a autora do livro “Nina na Califórnia”

    Como foi a roda de leitura com a autora do livro “Nina na Califórnia”

    Escrito por Laura Claes

    O que três mulheres têm em comum além do fato de serem mães, imigrantes e incentivarem o Português como língua de herança? Vem comigo que vou te mostrar. Criar filhos fora do seu país de origem não é uma tarefa fácil. Os desafios para as mães imigrantes são inúmeros e os benefícios também. À medida que os filhos crescem e encontram neste país seu lar, os pais imigrantes veem a necessidade de manter o vínculo com suas origens e cultura. Eles encontram na língua a conexão e o suporte que precisam.

    A língua de herança antes de ser uma modalidade, pode ser entendida por línguas trazidas por imigrantes e usadas por seus descendentes em suas comunidades. Assim, falante de língua herança é uma pessoa que foi criada num ambiente onde se utiliza uma língua minoritária e portanto diferente da língua maioritária no país em que se vive, e que fala ou pelo menos entende essa língua dentro de um contexto bilingue. Línguas de herança são  introduzidas e mantidas por grupos familiares, mas especificamente por mulheres que priorizam sua língua Materna.

    Renata

    Renata Formoso, brasileira, mãe do Noah e imigrante iniciou em 2020 a campanha de financiamento coletivo para seu primeiro livro ” Eu também falo Português” que conta a história da Nina, uma menina falante e curiosa, que relembra a real importância de manter a língua portuguesa, mesmo morando em um país super distante. O livro foi um sucesso de vendas em vários países da Europa e EUA e de grande identificação pelas crianças e também pelas famílias que encontram na personagem a representação do trabalho diário de promover e manter o português como língua de herança em suas casas.

    Laura

    Apaixonada por livros desde criança, Laura os vê como ferramentas para diferentes fases da sua vida. Enquanto estudante de psicologia se debruçou sobre livros teóricos durante sua formação e posteriormente conheceu outros livros e passou a utilizá-los nos ambientes terapêuticos com crianças e famílias. Quando se tornou imigrante e morou em Amsterdam recorreu aos livros, mas para fins pessoais, já que essa nova fase demandou novos aprendizados. Agora como mãe imigrante recorre novamente a eles, mas desta vez à literatura infantojuvenil. Através do seu perfil @casafeitadepalavras ela compartilha o amor que surgiu junto com sua filha pelos livros e desta vez, incentivando a leitura como aliada na promoção do português como língua de herança e na criação de filhos bilingues.

    Angela

    Angela, também imigrante, mãe de dois que em 2013 fundou o BRAVE, um grupo que começou no Facebook e hoje é uma rede de conexão, informação e apoio para mais de quase 7000  mulheres brasileiras da Bay Area. Ao longo dos anos, Angela e suas colaboradoras e voluntárias promovem diversos eventos e negócios, ganhando destaque pelo trabalho feito a comunidade.

    Evento

    O evento organizado e idealizado pela Laura e com o apoio do BRAVE aconteceu no dia 27 de Maio de 2023. A autora Renata Formoso que mora em Londres e veio para Califórnia para promover seu novo livro “Nina vai ao Brasil”. O evento gratuito para as crianças falantes da língua portuguesa e suas famílias, teve uma roda de leitura do novo livro da autora, espaço para perguntas, fotos e autógrafos e também um workshop de capoeira com o mestre Mike do movimento Mão pelo Pé Capoeira.

    Foi uma manhã especial para as mais de 30 crianças e famílias que estiveram conosco, mostrando que ações como essas incentivam os falantes de herança a partilharem de outros espaços nos quais sua língua e cultura podem ser incentivadas e preservadas. Eventos como estes e livros como o da Renata, mostram que a valorização da língua de herança e da cultura brasileira são essenciais para que os falantes de herança se identifiquem com sua língua e possam construir suas identidades e circular pelo bilinguismo com consciência sobre suas origens. Foi especial ver a interação das crianças com o mestre Mike e as experiências trocadas e as memórias construídas. E não podemos esquecer do reencontro da Angela e Renata, amigas de colégio que não se viam há alguns anos. Obrigada BRAVE pelo apoio e por conectar e apoiar mulheres da comunidade!

  • Mês de Conscientização Sobre o Tráfico de Seres Humanos

    Mês de Conscientização Sobre o Tráfico de Seres Humanos

    Janeiro é o mês de conscientização sobre o tráfico humano. Estima-se que existam mais de 27.6 Milhões de vítimas pelo mundo todo e esse problema é particularmente grave na Califórnia.

    Os traficantes de seres humanos ganham dinheiro obrigando suas vítimas a se prostituírem ou trabalharem em indústrias de setores lícitos e ilícitos como hotelaria, turismo, agricultura, limpeza, construção, jardinagem, restaurantes, fábricas, cuidadores de pessoas, salões de beleza, casas de massagem, feiras, mendicidade, contrabando e distribuição de drogas, instituições religiosas, creches e serviços domésticos. Traficantes procuram vítimas de todas as idades, gêneros, nacionalidades e classes sociais.

    Tráfico humano é um crime gravíssimo e que abusa dos direitos humanos, compromete segurança nacional e economia. “Tráfico Humano”, “Tráfico de Seres Humanos” e “Escravidão Moderna” são termos também usados para descrever esse terrível crime. É estimado que 49.6 Milhões de pessoas estejam vivendo em situações escravistas, 1 em cada 4 são crianças, 54% são mulheres e meninas, 27.6M estão em trabalho forçado e 22M estão em casamentos forçados (Walk Free).

    Durante a pandêmia o tráfico humano também aumentou. Com a economia atingida, muitas pessoas ficaram vulneráveis ao tráfico humano e os traficantes tiraram proveito das circunstâncias da pandemia. Os traficantes visavam famílias com dificuldades financeiras e ofereciam falsas promessas e ofertas de emprego fraudulentas. Na quarentena, os traficantes da Amazônia no Brasil mudaram seus padrões, enviando vítimas de tráfico sexual infantil para os aposentos privados dos traficantes ou locais específicos, em vez de enviá-las aos locais habituais onde as crianças eram vendidas a outros traficantes. Nesse documento você pode ler todo o impacto que a pandêmia causou na luta contra o tráfico humano.

    Como reconhecer tráfico humano

    Embora esta lista não seja extensa aqui estão algumas principais situações suspeitas de tráfico humano:

    • Mora com seu empregador
    • Situações precárias de moradia
    • Muitas pessoas num mesmo local
    • Não pode se comunicar com ninguém sem a presença de outra pessoa
    • Respostas parecem ser decoradas e seguem um padrão
    • Empregador tem posse dos documentos
    • Sinais de violência física
    • Submisso ou com medo
    • Assalariado ou recebe muito pouco
    • Menor de 18 anos e se prostituindo

    Se você tiver a oportunidade de se comunicar com uma potencial vítima, aqui estão algumas perguntas que podem ser feitas:

    • Você pode sair do seu trabalho se você quiser?
    • Você tem o direito de ir e vir?
    • Você já foi agredida ou ameaçada alguma vez que tentou sair?
    • Sua família sofre ameaças?
    • Você mora com seu empregador?
    • Onde você come ou dorme?
    • Você tem dívidas com seu empregador?
    • Você tem passaporte/identidade? Quem tem a posse dos seus documentos?

    Não se limite a isso, se você suspeita que alguém seja vítima de tráfico, denuncie!

    Tenha cuidado ao aceitar ofertas muito boas de emprego onde você precisa entregar seus documentos e passaporte. Pesquise a procedência da empresa, converse com amigos e familiares. Desconfie de ofertas muito boas e inclusive ofertas com promessas de mudanças de status imigratório.

    Só nos EUA no ano de 2021 a linha direta nacional de denúncia recebeu 51.073 alertas, 13.277 eram de vítimas e 10.360 casos foram identificados e 16.710 vítimas estavam envolvidas nos casos.

    Casos Demográficos

    A Linha direta apenas coleta informações demográficas de vítimas e sobreviventes em uma situação de tráfico quando apropriado. Esses números não são cumulativos, pois um caso pode envolver várias vítimas e sobreviventes. Não há dados específicos de faixa etária.

    Califórnia é o estado que possui o maior número de casos de tráfico humano. Aqui você pode ver os dados dos anos anteriores e por estado.

    Nesse link você encontra 20 maneiras de prevenir o tráfico humano, se informando, voluntariando, se conscientizando de onde vem nossos alimentos, encorajando escolas a adicionar protocolos de defesa e identificação ao tráfico humano, assistindo a filmes, falando sobre o assunto com amigos e familiares. Desta forma alertamos mais pessoas sobre o crime e como identificá-lo.

    Importante: mesmo que o estrangeiro esteja em situação migratória irregular nos EUA, é dever da autoridade policial norte-americano prestar atendimento à vítima de tráfico de pessoas. Em 2000, o Congresso norte-americano instituiu um visto especial para vítimas de tráfico de pessoas (“Victims of Human Trafficking: T Nonimmigrant status”), com o objetivo de protegê-las.n_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”small-visibility,medium-visibility,large-visibility” center_content=”no” last=”true” min_height=”” hover_type=”none” link=”” border_sizes_top=”” border_sizes_bottom=”” border_sizes_left=”” border_sizes_right=”” first=”true”][fusion_title title_type=”text” rotation_effect=”bounceIn” display_time=”1200″ highlight_effect=”circle” loop_animation=”off” highlight_width=”9″ highlight_top_margin=”0″ before_text=”” rotation_text=”” highlight_text=”” after_text=”” title_link=”off” link_url=”” link_target=”_self” hide_on_mobile=”small-visibility,medium-visibility,large-visibility” sticky_display=”normal,sticky” class=”” id=”” content_align_medium=”” content_align_small=”” content_align=”left” size=”1″ font_size=”” animated_font_size=”” fusion_font_family_title_font=”” fusion_font_variant_title_font=”” line_height=”” letter_spacing=”” text_shadow=”no” text_shadow_vertical=”” text_shadow_horizontal=”” text_shadow_blur=”0″ text_shadow_color=”” margin_top_medium=”” margin_right_medium=”” margin_bottom_medium=”” margin_left_medium=”” margin_top_small=”” margin_right_small=”” margin_bottom_small=”” margin_left_small=”” margin_top=”” margin_right=”” margin_bottom=”” margin_left=”” margin_top_mobile=”” margin_bottom_mobile=”” text_color=”” animated_text_color=”” gradient_font=”no” gradient_start_color=”” gradient_end_color=”” gradient_start_position=”0″ gradient_end_position=”100″ gradient_type=”linear” radial_direction=”center center” linear_angle=”180″ highlight_color=”” style_type=”default” sep_color=”” link_color=”” link_hover_color=”” animation_type=”” animation_direction=”left” animation_speed=”0.3″ animation_offset=””]

    Como ajudar uma vítima de tráfico humano

    Se você acredita que está em uma situação de tráfico humano ou tem informações sobre alguém que possa estar nessa situação, entre em contato com a U.S. National

    Human Trafficking Hotline. Em casos de perigo iminente entre em contato com 911.

    PARA DENUNCIAR a suspeita de tráfico humano para agentes federais:

    TO REPORT suspected human trafficking to Federal law enforcement: 1-866-347-2423

    Se VOCÊ É VÍTIMA de tráfico humano:

    To GET HELP from the National Human Trafficking Hotline: 1-888-373-7888 or text HELP or INFO to BeFree (233733)

    Mais informações nesses links abaixo:

    Human Trafficking hot line – recognizing the signs

    State Gov – about human trafficking

    20 ways you can help fight human trafficking

    What is trafficking in persons

    Dia da conscientização contra o tráfico humano (português)

    Human trafficking statistics

    Blue Campaign

    Walk Free

  • As montanhas invisíveis da imigrante brasileira

    As montanhas invisíveis da imigrante brasileira

    Por Bruna Meneses*

    Como imigrante brasileira, que experimenta as barreiras e os desafios diários de viver no exterior, fui tocada por esta realidade por muitas outras mulheres imigrantes brasileiras que também vivenciam essa experiência. 

    Como psicóloga, não tem sido diferente no meu campo de trabalho. Atualmente, atendo a distância brasileiras por toda parte do mundo e tenho notado que, apesar da diversidade de países, os obstáculos enfrentados por cada uma longe de casa são semelhantes. Similaridades presentes nas narrativas de cansaço e sofrimentos existenciais provocados pela exposição a ambientes culturalmente diferentes. Lugares em que a trajetória imigratória exige reinvenção pessoal e profissional. Um processo de ajustamento angustiante para diversas mulheres.   

    Certo dia, escutei de uma cliente: “vida de viajante é muito diferente da vida de imigrante”. Enquanto ela falava, despretensiosamente o seu olhar desviava-se para baixo. Confesso que ainda carrego comigo aquela expressão seguida de uma longa pausa silenciosa.  

    Imigrar envolve silêncios. É não saber o que dizer, o que fazer, nem por onde começar. É ser como uma montanha, impossibilitada de mover-se, pelo acúmulo de tudo aquilo que não é dito, apenas vivenciado diariamente. O medo, a exclusão, a solidão, as frustrações e principalmente as dificuldades com o idioma local. Não dominar a língua tem um peso considerável nesta construção de uma “montanha interna”, uma vez que, além de limitar a comunicação, gerando um convívio social não saudável, inviabiliza oportunidades. Deste modo, o mundo à volta também se torna-se imóvel — como uma montanha — repleta de imposições que parecem afastar a imigrante do pertencimento. Uma “montanha” estrangeira, onde o esforço necessário para lutar e conquistar seu espaço distante de casa é duplamente maior do que o de alguém que nasceu ali.  

    Escolher imigrar é deixar uma parte significativa da própria existência, renunciando sua casa, posição social e relações interpessoais. Abdicar é o gatilho inicial do sentimento de culpa, pois começar do zero é um caminho extremamente árduo e cercado de inquietações. Neste caminhar, é comum o surgimento de conflitos existenciais em razão da idealização inicial que se opõe à realidade vivida: “como eu gostaria que fosse” versus “o que o meio exige de mim”. 

    “Como eu gostaria que fosse” é quando a vida idealizada para esta nova morada não é concretizada por inúmeras razões. A principal delas é a forma de lidar com as frustrações, em não conseguir corresponder às exigências daquele meio social. A frustração, por sua vez, é uma das sensações evidenciadas neste campo das realizações pessoais por conta das projeções daquilo que, provisoriamente, não é possível ser nem alcançar. Prevalecendo o desejo de ser quem verdadeiramente é, ao invés de apenas exercer papéis e funções que lhe são permitidos. Em paralelo a isso, “o que o meio exige de mim” é quando uma autoimagem é criada numa tentativa de se encaixar em um padrão que este novo cenário demanda. Um padrão que muitas vezes requer anulação das próprias raízes, isto é, intensificando o choque cultural. Neste campo das exigências do ambiente, há também demasiadas expectativas sobre quem migrou construídas por pessoas que não vivenciaram esta experiência. 

    Em muitos casos, o meio vai atribuir a imigrante o dever de amparar, além das próprias responsabilidades para sua sobrevivência, a carga emocional, financeira e responsabilidades de familiares que ficaram em seus países de origem. Um lugar de amparo constante que a impede de expor suas fragilidades e de ser acolhida por pessoas do seu círculo afetivo.                                  

    É interessante que, às vezes, parece que morar no exterior é estar isento de experimentar tristeza, medo e raiva, sendo estas emoções inerentes ao ser humano. Este é um ponto que me remete à lembrança da entonação de voz de outra cliente, que por meio de uma fala retraída expressava o quanto era difícil se comunicar com os amigos no Brasil, pois em seus diálogos era necessário ressaltar frequentemente que estava tudo bem, caso contrário, ouviria: “ah, mas você está em Paris, seja mais positiva”. Paradoxalmente, pode soar ingratidão não transparecer felicidade ao externalizar uma vivência pessoal em um lugar que não é casa, tampouco lar. Lidar com as visões ilusórias e expectativas dos outros sobre uma realidade com a qual não estão familiarizados, pode intensificar as angústias existentes neste percurso longe de casa. Ainda sob o olhar do outro, a ingratidão pode ser considerada fracasso, uma vez que a imigrante decida regressar ao seu lugar de origem. Uma decisão que lhe exige coragem frente ao emaranhado de incertezas e julgamentos.   

    Não regressar, apesar de tudo, é um ato igualmente corajoso, principalmente quando a solidão é um dos maiores desafios. Encarar cotidianamente a solidão sem se perder de si mesma é ser inundada todos os dias pela mesma onda, e ainda assim, não se afogar.

    Infelizmente, o casulo solitário existe na vida de muitas brasileiras imigrantes. A sensação de ser esquecida ou notar o enfraquecimento dos vínculos afetivos construídos ao longo da vida é tão esmagadora quanto a dificuldade de construir novos vínculos em um país diferente.

    Diante disso, quero enfatizar a importância da construção de uma rede de apoio para aquelas que pensam em emigrar ou já migraram. Independentemente do país escolhido, é importante saber a quem recorrer em uma situação de emergência, uma vez que esse suporte pode representar cuidado e segurança. Essa rede de apoio pode ser composta por membros da família, um parente distante, amigos, ou até mesmo organizações e plataformas tanto físicas quanto online — como por exemplo o BRAVE — que pode acolher e ajudar a lidar com algumas necessidades específicas. Fechar-se em um casulo solitário e tentar atravessar por conta própria os conflitos internos e externos longe de casa pode te colocar em situações de vulnerabilidade e até de perigo. Portanto, é muito importante gerar conexões e laços, sempre que possível. 

    É importante fazer networking, construir pontes com bases sólidas, buscar ajuda de um profissional da área de psicologia, e sobretudo, evitar escalar essas montanhas sozinhas.  

    *Sobre a Autora: Bruna Meneses, Graduada em Psicologia pela Universidade Salvador, Gestalt-Terapeuta, Psicóloga online. Atualmente, reside em Nova York e trabalha com o público feminino focado em brasileiras imigrantes. Voluntária em plataformas online de grupo de apoio à imigrantes brasileiras e também atua em seu projeto social atendendo demandas psicossociais de brasileiras pelo mundo.